O Mar Sem Estrelas – Erin Morgenstern (Resenha)

O Mar Sem Estrelas: O que são nossas histórias e onde elas desemborcam, nossos contos e lendas podem estar escritos em um livro enterrado em meio a uma imensidão de outros, numa biblioteca subterrânea qualquer, ou simplesmente coincidências podem acontecer, sonhos proféticos e coisas do tipo… bem no meu e no seu caso eu não vou poder responder (no momento!) mas para Zachary Ezra Rawlins esse mistério já tem resposta, e após pouco mais de 500 páginas você vai poder entender, muta coisa, sobre o mundo de “O Mar Sem estrelas” e viajar nas desventuras de histórias que se cruzam os limites entre o tempo e o destino.

Esse é um daqueles livros que vão te prender de uma forma mágica que vai te fazer repesar sobre a ideia de destino, vidas passadas e como o amor e uma promessa podem ser levado a milésima potência (risos’ do rsrs, não do kk).

Algo foi perdido, algo foi roubado, e precisa ser encontrado. Dês de cedo o livro se mostra uma homenagem a histórias, a contos dentro de contos e de narrativas que se interligam com um propósito maior, como se precisassem ser descobertas, navegadas. Com uma linguagem rica em metáforas, a autora se inspira em contos de fadas, obras modernas e com simbolismos mitológicos, para dar vida a um universo único e mágico que cativa todos os que ousarem se aventurar em suas páginas.


O livro inicia-se de modo aparentemente simples com o protagonista, Zachary, estudante de pós-graduação, encontra um misterioso livro em uma estante na biblioteca da universidade, sem autor, sem título visível, apenas com símbolos na capa (uma abelha, uma chave, uma espada). Esse achado desencadeia uma jornada que rapidamente escapa de qualquer lógica convencional e o leva ao reino subterrâneo e o mundo fantástico do “mar sem estrelas”, com uma imensidão de túneis, cercados de contos, navios navegando no caos e no mel, piratas com espadas, guardiões, e portas misteriosamente pintadas em paredes que já não são tão acessíveis quanto foram.

A estrutura que o livro toma é um tanto fora do convencional, aqui a autora intercala a narrativa principal, em que acompanhamos, Zachary, a pintora de cabelo rosa Mirabel, e o enigmático Dorian, entre outros, e uma diversidade de contos que aos pucos vão se interligando e dando sentido a trama. Atenção aos detalhes é essencial para compreender a história, e um tanto de imaginação para as nuances dos detalhes da obra, pois nem tudo fica explicito, mutos detalhes podem ser perdidos em uma leitura rápida, mas não demora muito para que o leitor se apegue aos personagens e queira entender melhor sobre eles, se vendo
investido em suas motivações e questionamentos: quem somos nós, que histórias contamos, que portas abrimos, que mundos ignoramos? Particularmente interessante é como o livro trata a sexualidade de seu protagonista de modo natural, o fato de ele ser gay é mencionado sem alarde, o que pode ser considerado outro ponto diferencial e que agrega ao repertório do livro.

O ritmo de leitura pode variar, muitas vezes temos de passar por momentos acelerados onde devorar as páginas se torna habito, em outros casos temos de parar um pouco para juntar as peças da narrativa, e poder entender melhor o que está acontecendo, às vezes podendo até se sentir um tanto perdido, e sim isso pode ser bem intencional por parte da autora. Para os que gostam de enredos diretos e aplicações claras, esse livro pode frustrar, esse livro não se trada de uma aventura típica, está mais para uma experiência literária, quase como um sonho, cheia de nuances, que de início soam quase que aleatórias, mas no decorrer da trama se unem em seu sentido, os méritos são abundantes: a prosa de Morgenstern sabe encantar, os cenários que ela evoca (bibliotecas subterrâneas, navios pirata, sociedades secretas, mel, etc.) ficam ecoando na mente do leitor, despertando aquele tipo de encantamento que só histórias sobre histórias conseguem provocar. O Mar Sem Estrelas agora é um livro que achou seu lugar fora da curva, uma fantasia primorosa, mas que foge completamente dos padrões.

O livro discute temas relativos a destino, amor, arte e o papel de livros nessa narrativa, como em uma metáfora das fábulas a muito perdidas, ou de histórias que nunca foram contadas, daquilo que existe além da superfície visível das páginas. A jornada de Zachary, ao descobrir que o livro que achou reflete algo de sua própria infância, levantando o ponto de que somos moldados pelos livros que lemos, pelos lugares que habitamos e as portas que escolhemos abrir, mesmo sem saber.

O final: bem, o final é um tanto agridoce, aberto, simbólico. Podendo até gerar aquela estranha vontade reiniciar a leitura para tentar entender melhor todos os sentimentos que a leitura proporciona. Existe uma melancolia por deixar o universo da história, como se o leitor tivesse entrado em um mundo paralelo e tivesse que retornar à “realidade” (para mim remetendo um pouco a “História sem fim” e “Alice no país das maravilhas”). Ao mesmo tempo, a sensação de que algo mudou, que lemos algo além de uma simples história linear, quase como se algo oculto tivesse sido revelado (Multiverso?).

Em resumo, “O Mar Sem Estrelas” é uma obra que desafia, que encanta e que pode dividir públicos. Para quem está disposto a mergulhar em fantasia literária, no mundo das fábulas, metáforas e maravilhamento, será uma leitura memorável. Para quem prefere histórias lineares, personagens instantaneamente familiares e explicações extensas, talvez não seja a experiência ideal, mas talvez (um dos pontos que torna o livro especial) esse desconforto faça parte da proposta, ler esse livro é de certa forma como entrar em um sonho, que desemborca em vários outros. Uma das mais belas homenagens à literatura que li, uma obra que nos recorda da importância de contar histórias, da existência de vários mundos e de mundos dentro de mundos, o “mar sem estrelas” é uma porta aberta que nos leva a relembrar da importância da imaginação, e que nossa mente é um mar pronto para ser navegado.

Se você se sente leitor apaixonado por livros, pelos símbolos, magia, por mistérios que se revelam aos poucos e por mundos que persistem após a última página, então esse livro vale cada segundo. Então, boa viagem!

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